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Eu não sabia que isso morava em mim!

Imagem inclusiva com pessoas com deficiência

Na Semana da Pessoa com Deficiência o tema da inclusão revisita as nossas consciências. A cada semana que passa, me sinto insuficientemente preparada para incluir. Sinto que ainda não sabemos bem como fazer isso. Lembro-me de Jesus interagindo com Bartimeu, o filho de Timeu, que clamou dizendo: “Senhor, tem compaixão de mim!”. Ao que Jesus respondeu com a pergunta: “O que queres que eu te faça?” (Mc 10.46ss).  Essa interação é um norte para mim. Quando estou diante de uma pessoa com deficiência, me coloco no lugar de Bartimeu e clamo, porque sinto não saber bem como agir. Outras vezes, me coloco no lugar de Jesus e pergunto para saber, o que me faz sentir melhor. Em resumo, quero dizer que nós, pessoas sem deficiência, não sabemos bem como agir diante das pessoas com deficiência porque a deficiência está nas nossas relações. Tenho a convicção de que a deficiência não é o marcador da diferença. Cada pessoa compõe a sua história e é diferente pelo seu jeito único de ser. A deficiência mora em nós.

Lembro de uma vez que escutei a frase de que nenhum pai ou mãe gostaria de ter um filho com deficiência. No dia que escutei isso, não entendi. Acho que ainda não sabia que deficiência era o nome daquilo que morava em meu corpo. (DI MARCO, 2020, p.9)

Talvez você já tenha ouvido, dito ou reprimido uma fala assim, em outros contextos. Esse pensamento é produto de uma construção social e foi observado como um fenômeno pouco conhecido, porém nominado desde a década de 1980, e se chama “capacitismo”. É preciso conhecer esse fenômeno se desejamos nos tornar comunidades inclusivas. O capacitismo elege um corpo como padrão e norma, e produz a discriminação entre os corpos segundo certo padrão de funcionalidade: os eficientes e os deficientes, os perfeitos e os imperfeitos, os produtivos e os improdutivos, os capazes e os incapazes, os normais e os anormais. E, de fato, não o percebemos, mas está presente nas relações humanas, nas falas de todos nós (ofensivas, condescendentes, diminutivas, infantilizadas ou até de superação) ou nos silêncios, na aproximação ou no afastamento corporal.

Por que não vemos, tão comumente, as pessoas com deficiência nos espaços sociais? Quase não os vemos em nossas igrejas, outras barreiras se interpõem. Mas, se não convivemos, não nos conhecemos e a deficiência segue sendo a única “diferença”. O capacitismo, enquanto leitura social dos corpos, ignora a história e autonomia da pessoa, vê apenas a deficiência. Jesus deu ao Bartimeu o que ele queria e precisava: a compaixão e a autonomia. Bartimeu, filho de Timeu, que vivia como mendigo em Jericó, era mais do que a condição de sua deficiência, tinha a sua história e por causa da sua fé, tornou a ver e seguiu Jesus estrada afora.

Oração: Deus Criador, te louvamos pela diversidade da tua criação. Que o teu Espírito de amor, nos sensibilize para amar as diferentes formas de ser e de estar neste mundo. Que as nossas diferenças sejam sempre para contemplar a diversidade criada e não para gerar formas de segregação social. Que as nossas relações sejam pautadas pelo amor que aprendemos de Jesus, nosso Salvador. Amém.

Pa. Cláudia P. S. Pacheco
Paróquia Evangélica de Confissão Luterana São Miguel em Dois Irmãos

Referências:
COSTA, Laís Silveira et al. Combata o capacitismo: orientações para o respeito à diversidade humana. 2ª ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2024. Disponível em: <https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/61296>. Acesso em: 23 abr. 2024
DI MARCO, Victor. Capacitismo: o mito da capacidade. Belo Horizonte: Letramento, 2020. E-book.