Manifesto do Conselho da Igreja e da Presidência da IECLB
Vocês são o sal da terra. Vocês são a luz do mundo.
(Mateus 5.13-14)
Nós cremos
- Que a terra e tudo o que nela existe é obra das mãos bondosas do Deus Criador, e que a existência do planeta é possível pela ação constante do Espírito Santo (Gênesis 1.31);
- Que todos os seres humanos, sem distinção, são igualmente criados à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.27);
- Que os seres humanos são parte da Criação de Deus, com a responsabilidade de cuidar e cultivar toda a terra (Gênesis 2.15);
- Que o pecado e suas consequências se desdobram na relação de seres humanos e Deus, nas relações interpessoais e na relação com a natureza, trazendo caos e morte (Gênesis 3);
- Que Jesus Cristo, por meio da graça e da fé, salva, restaura e conduz seu povo a mudanças de comportamento, a fim de amenizar o sofrimento causado pelo pecado (Efésios 2.8-10; Romanos 8.19);
- No compromisso inalienável da fé cristã e de toda pessoa batizada de trabalhar para que os modelos de desenvolvimento sejam economicamente sustentáveis e que levem em consideração o impacto sobre os ambientes naturais, seus biomas e a diversidade biológica, que ali coexistem;
- Que cada pessoa e a sociedade podem fazer a sua parte, produzindo e consumindo de maneira responsável e justa, buscando a sustentabilidade, reduzindo, assim, os impactos ambientais;
- Na importância e no papel da comunidade de fé como espaço de reflexão, planejamento e mudança em ações de justiça ambiental.
Nós reconhecemos
- Que estamos vivendo uma crise climática e que há povos e nações que perderam terras, modos de subsistência e a própria vida;
- Que a Igreja e sua teologia exerceram papel importante na cristalização de uma visão antropocêntrica de dominação e subjugação dos seres humanos sobre as demais partes da criação. Tal visão desencadeou estratégias de exploração que não tiveram respeito para com a biodiversidade, levando milhares de espécies à extinção;
- Que a Igreja tem falhado em reconhecer, refletir e apontar caminhos para a realidade de injustiça ambiental;
- Que, como indivíduos, temos falhado e pecado contra Deus e a Criação, ao não fazermos a parte que nos cabe, conformando-nos com modelos de desenvolvimento econômico que agridem e destroem.
Nós anunciamos
- A esperança no Deus que não abandona o seu povo, por mais que este se afaste (Isaías 41.10; Romanos 8.38s);
- Que Jesus Cristo vem ao mundo para reafirmar seu compromisso de caminhar conosco, oferecendo seu perdão e indicando o caminho para a transformação pessoal, social e ambiental (Mateus 28.20b);
- Que a Igreja tem o desafio e o chamado do Deus Criador para refletir e buscar, em diálogo fraterno com a sociedade e autoridades, mudanças frente: aos modelos econômicos que favorecem a acumulação de riquezas e marginalizam parte da população; aos modelos de desenvolvimento que estão baseados em exploração ambiental e que destroem e agridem a biodiversidade; às ações que permitem as guerras e as migrações forçadas, que contribuem significativamente para a ocupação e consequente destruição de ambientes naturais; à urbanização desenfreada e não planejada, que ocupa áreas de preservação permanente, destruindo a biodiversidade por meio do despejo de grandes quantidades de dejetos, atingindo o solo e os mananciais hídricos;
- Que a Igreja tem o compromisso de defender a criação de Deus e a dignidade de todos os povos e seu direito inalienável a uma vida plena;
- Que, na vivência da comunhão e partilha, há possibilidade de um novo começo, com relações de preservação e conservação ambiental que favoreçam o cuidado com a Criação e o respeito a todas as formas de vida.
Porto Alegre, 5 de junho de 2023